Penso enquanto estou no carro, ensaiando novos afazeres.

Depois que a estrada acabar e o céu aberto me ensinar que jamais poderia domar o que sinto, sigo pensando. No trânsito das inconstâncias nada sóbrias do pensamento e ideias mirabolantes, hiperbólicas, interessantes, difusas, exorbitantes…

Pensar por si só já é um exagero. Um gasto energético confuso. Gastamos horas pensando, o que nada mais é do que a imaginação contornada da realidade, organizada, prostrada ao juízo.

Pensar é um exagero, basta viver, mas viver por viver é puro prejuízo! A vida exige reflexos, hipóteses, ponderações, insanidades, pensamentos, ideias…

Sou fascinada por ideias, das mais tortas às mais certas.

O que é uma ideia? Pensando sobre isso, encontrei uma analogia certa sobre certas ideias…

Ideia nasce “de surpresa”, devido a pensamentos anteriores construídos, fantasiados e ensaiados no subconsciente e às vezes, até externados. É como dois amantes, inicialmente isolados, que ensaiam um sentimento e a cada encontro e olhar, consumam o que está por dentro, transformam em algo mais ou alguém a mais. Esse alguém a mais é ainda desconhecido, vago de juízo, mas, conforme o tempo passa e os meses avançam… Esse alguém ganha contornos perceptíveis e logo é notado. Sua existência passa a ser conhecida e aquele que gesta já o nota, o imagina, o deseja … E vive maturando sobre como deve ser.

Assim é uma ideia, antes mesmo de nascer já começa a ganhar forma. É um processo lento de construção, uma gestação. Assim nasce uma ideia, concebida de fatores aparentemente isolados, como genitores de um ser, que se unem por certos interesses e afins e preparam um novo indivíduo – que não nasce no mesmo instante em que se gera, muito menos é imutável.
Ideias são geradas, elaboradas e por fim paridas, sempre suscetíveis a mudarem, serem reformuladas, destruídas…. E assim como pessoas, inspiram umas às outras.

Ideias se inspiram, se colaboram, se constroem. Não há limites para uma ideia… De mente em mente, de tempo em tempo, de texto em texto, de pensamento a pensamento.

Não nessa ordem.

Ideias são reflexos de outras ideias – geradas aparentemente ao acaso. Ideias que maturam desde o pensar à formulação e nascem para crescerem, mudarem e assim se transformarem em outras ideias. Ideias não são fixas e sim, inconstantes e muitas vezes, imprevisíveis.

Neste mesmo texto, quando o idealizei, visualizei de certo modo distante do que se torna. E, conforme o avanço de minha escrita, conforme as palavras se encontram, conforme os parágrafos se cruzam, conforme o destino se exprime.

Ideias são assim e se assim não fossem, de nada serviriam.